29 de junho de 2009

Porque somos

O mundo pode nem sempre ser feito de lugares perfeitos e momentos à medida daquilo que mais desejamos. O mundo inteiro pode ruir e é natural que provoque em nós a sensação do escombro, que sintamos que, mau grado todo o esforço – às vezes titânico – não somos suficientemente rápidos para prevenir o desequilíbrio quando o tapete nos é retirado de debaixo dos pés. Parece que a vida é um constante reajustar dos sonhos e não uma rota em direcção à sua concretização. Ás vezes tudo é, pura e simplesmente, demais e nós tão manifestamente humanos que sentimos os joelhos cederem perante o peso do que a vida nos coloca sobre os ombros, perante o peso daquilo que não pedimos para acontecer mas que, contra as nossas melhores aspirações, acontece.
É natural que as mãos se nos crispem num grito contido, que o olhar se ensombre e a linha dos lábios se cerre com um tremor de lágrimas. É natural que o ar nos pareça pouco para respirar, que nos pareça contaminado e que o que a nós tanto custa aos outros pareça tão fácil. Somos frágeis, feitos de carne e osso, de terminações nervosas, de sangue que o coração bombeia a ritmo desfasado, incerto, às vezes tão próximo de nada. Queremos o que é nosso por direito, um lugar ao sol, e as nuvens como que teimam em esconde-lo.
É natural sentirmo-nos sem forças, à beira do abismo, na margem sem segurança de um precipício. Tudo parece a repetição do mesmo… mas nada é nunca o mesmo.
Meu amor, eu sei que tenho apenas para te oferecer a força da mão com que agarro a tua. Tenho os meus dedos entrelaçados nos teus de uma forma em que a minha pele é também a tua, em que a tua pele é a minha. Conheço a linha do teu sorriso e maravilho-me ainda com o som que o teu coração faz no teu peito e que eu ouço durante esse abraço que nos envolve e protege. Tenho os meus ombros, em que te podes apoiar. A minha voz que tanto quero que te sirva de farol no meio da tempestade. O meu peito aberto, os meus braços abertos, num acto de fé que por ti não cessa. És aquilo em que mais acredito, o meu credo, a minha religião, o meu ritual pagão de homenagem ao universo e de agradecimento à vida.
Não é fácil que a vida seja uma luta constante mas se assim é, é porque reconhece em nós a força para lutar. E tu já venceste tanto. Se os joelhos nos cederem, coloquemos a mão no chão para nos apoiarmos e não cairmos e façamos desse gesto o impulso necessário para o passo seguinte. Não é aqui nem agora que nos declaramos derrotadas. Tanto já houve passível de nos tirar as forças e nem por isso sucumbimos no ringue. Ficou-nos lá o sangue espalhado mas não extinta a vida. Nunca a vida. Houve sempre manhã depois de cada noite fria e cerrada e este “agora” não é diferente. Existe a manhã daquilo que se continua a tentar. A manhã daquilo que teimamos em insistir. A manhã do amor dos que nos rodeiam por nós. A manhã das suas orações. Dos seus melhores pensamentos. Do que é incondicional na ligação de sangue e alma. Existe a manhã daquilo que é comum num projecto em que todos trabalham e se esforçam por levar a bom porto. E existe, sobretudo, a manhã dessa fé inabalável que vence as escarpas que nos ameaçam a viagem mas que não são suficientemente fortes para nos destruir, porque nós não deixamos. Porque nós somos sobreviventes. E quem sobrevive - quem depois de tudo o que quase mata continua a viver – nada tem a temer.
Meu amor, pode ser de muito trabalho a nossa vida – já o é, sempre foi – e todos os começos podem ter o sabor acre das experiências passadas mas, pelo menos, existe a oportunidade do começo. Nada é um fim. Tudo é a possibilidade de alguma coisa. És uma Mulher com provas dadas na batalha da existência. De lutas como as que tu travaste nem todos saem vitoriosos mas tu continuas de pé. Independentemente das condicionantes e de tudo o que sendo alheio te afecta, tu continuas de pé. E se resistes é porque ainda existe fogo dentro de ti, é porque o que te incendeia e gera força anímica está preservado. É porque és uma lutadora nata e nada é, para ti, impossível. Não é.
Meu amor, sente a força da minha mão como eu sinto a força da tua. São muitas as batalhas que temos pela frente mas é uma a seguir à outra que se vence a guerra. Não há nos nossos pertences nenhuma bandeira branca de rendição porque não estamos nesta viagem para perder. Sou o teu reforço, a tua tenda de campanha, como tu és para mim. Alinhadas no céu as estrelas estão a nosso favor e quem tem a boa fortuna de se amar já é rico à partida.
A viagem que iniciaste em Fevereiro está ainda no começo. A realidade que vives, tão incerta, é uma prova de vida sim, mas já venceste, já te valeste. E quem assim se sustém não tem porque cair.
Eu acredito em ti como nunca acreditei em nada na minha vida. E tenho fé em ti como nunca tive fé em nada na minha vida. E luto contigo porque é em ti, por ti, que também eu me cumpro.

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