30 de abril de 2009

Do imprevisto e da fragilidade

Do meu primeiro "Dia da Rainha", aqui em Den Haag na Holanda, só posso dizer que foi cheio de emoções e muito atribulado. Um ataque tentado e deliberado ao autocarro onde seguia a Rainha e demais membros da Família Real fez parar as celebrações e a festa perdeu todo o encanto.
Este ano, as comemorações foram em Apeldoorn, onde, salvo erro, a rainha Juliana, mãe de Beatriz, nasceu. O dia 30 de Abril, como sendo "Dia da Rainha", foi escolhido precisamente por ser dia do aniversário da Rainha Juliana, neste caso da comemoração do seu aniversário, visto já ter morrido. E hoje, a Família Real holandesa não pereceu quase toda porque não calhou. Um homem num carro avançou, deliberadamente, sobre o autocarro onde seguia a Familia Real, tendo falhado o alvo por uma fração de segundos e embatido de seguida num monumento da zona.

Assisti à cena em directo na televisão, enquanto tomava o pequeno almoço com a minha prima e nos preparávamos para também sair e gozar do dia. Ao príncipio, nem acreditámos no que estávamos a ver. A minha prima só dizia:
-"Só pode ser um simulacro, isto não está a acontecer, não está a acontecer de verdade!"

Mas estava. A polícia e as autoridades no local foram duma prontidão a toda a prova. E, correndo risco de vida, pois não podiam saber se o carro iria explodir ou não, socorreram imediatamente algumas pessoas que o carro colheu e o próprio autor do atentado. O autocarro não foi atingido e o automóvel também não explodiu. A família real saiu ilesa do acidente.

Pior sorte teve quem foi colhido pelo automóvel. Quatro pessoas faleceram e treze estão feridas, entre as quais cinco em estado grave. Foi um dia triste. E nunca antes, na Holanda, tinha acontecido algo do género.

Não gostei deste dia. Contudo, ainda saí com a prima e por lá andámos na rua, no meio das pessoas que estavam a vender as suas quinquilharias e velharias à semelhança de outros anos, se bem que neste fosse bem visivel a apreensão no rosto de algumas.

Ao que parece foi um acto isolado, nada de atentados terroristas, mas, de todas as formas, foi um acto violento e estúpido em que pessoas inocentes, algumas no decorrer do seu serviço, faleceram. Estão a toda a hora a actualizar as notícias sobre o sucedido na TV mas por não perceber o que dizem vim consultar o Dutch News.

É verdade, a Família Real ia toda junta. É verdade, não se esperava uma coisa destas. É verdade que, minutos antes, vários membros da Família Real andavam perto do seu povo, divertidos e animados, a dar saudações e a conversar com os seus súbditos. Num dia em que o “poder”, num dia em que o “estado”, “o símbolo da nação” ou whatever, está mais perto das pessoas e em que se sentia a alegria dessa proximidade porque os holandeses, salvo raras excepções, gostam da sua Rainha e da Família Real, acontecer isto serviu mais uma vez para mostrar a incerteza e fragilidade de tudo e de todos, neste mundo.

1 comentário:

  1. Depois de ter recebido as tuas mensagens a contar do sucedido fui ao site do Público ver o que por lá se dizia sobre o assunto. Em termos de notícia quase nada - apenas os factos - mas em termos de opinião sobre os factos muita coisa já rolava em praça pública.

    O que me irritou foi que, logo de imediato, se tivesse julgado que o "acidente" era atentado terrorista e que a ser, porque era, só podia ter sido perpetrado por muçulmanos... o que, inevitavelmente, degenerou numa meia dúzia de aberrações opinativas sobre Turcos e afins. Triste e preocupante. Tanto tempo a caçar bruxas e ficámos cegos.

    O que aconteceu hoje não pode ser diminuído por ter sido levado a cabo por um holandês. Foi trágico e quem morreu não merecia. Mas que quem tão prontamente se levantou para apontar o dedo aprenda aqui uma lição. As coisas, às vezes, não são assim tão óbvias.

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